Qualquer
pessoa responderia que alfabetizar corresponde à ação de ensinar a ler e
a escrever. No entanto, o que significa ler e escrever?
A partir da década de 1990 o termo letramento surge, o artigo publicado
por Eliana Borges busca discutir como os termos alfabetização e
letramento se relacionam por meio de depoimentos.
No final do século XIX o conceito de educação considerada como o ensino das habilidades de "codificação" e "decodificação" permeava as salas de aula. As cartilhas relacionada à esses métodos eram utilizadas como livro didático.
Em uma das falas, a do escritor Graciliano Ramos, ele conta a
experiência de repetição de sílabas que terminavam por atordoá-lo. O
processo de aprendizagem não o motivava. Os primeiros textos, com
significados complexos, apareciam somente no final o que proporcionou
que o mesmo decodificasse as palavras, mas não entendesse o que lia além
de notar que sua professora também não compreendia.
O relato da primeira professora entrevistada mostra que sua experiência
na alfabetização foi traumatizante, que tinha de usar a cartilha e
decorar todos os padrões silábicos. Ao chegar em casa a mãe utilizava o
mesmo método da escola e para ela "aquilo era uma chatice", ou seja não
lhe despertava nenhum interesse. Outro ponto relevante na fala desta
educadora é que "na escola a professora... não admitia de forma alguma
que a gente errasse". A cobrança desmedida desrespeitava os limites
humanos, uma vez que todo ser humano é passível ao erro.
A segunda professora entrevistada expõe que as atividades desenvolvidas
com ênfase na repetição e memorização de letras, sílabas e palavras sem
significados eram amenizadas pelas práticas de leitura vivenciadas no
ambiente familiar, mesmo utilizando o mesmo instrumento de estudo que
eram as cartilhas. Ela relata que "o processo foi muito feito na
brincadeira, no jogo e muito recheado de fantasia" sua mãae dizia que as
letras eram das pessoas de sua casa como "seu F", o "B de sua mãe", o
"A de sua irmã", o "P de seu pai" e aos poucos já sabia o alfabeto todo.
A relação das letras com as pessoas próximas relacionaram o conteúdo
(as letras) com a realidade dela, pessoas com quem relacionava-se
diariamente a faziam recordar de cada uma dessas letras. Ele refletiu
que "a mesma carta era diferente na escola, porque na escola você pegava
todos os alfabetos para decorar ordenado... tinha que demonstrar que
decorou a letra e não apenas a sequência" e em casa "era a mesma carta
do ABC que minha mãe usava de outro jeito". Um método diferenciado
adaptado ao aluno. Os textos lidos somente no final, na escola, eram
cantados pela mãe utilizando-se da música no processo de ensino o que
permitiu descontrair e tornar agradável ao universo infantil a leitura
dos textos. Outro ponto a se observar é a respeito do que fala "... mas
ela nunca disse que a professora estava errada" então o processo de
aprendizagem da criança se complementava.
A teceira professora diz ter vivenciado um processo de aprendizagem um
tanto parecido com o da anterior. Ela cita que a cartilha que sua mãe
usava em casa "tinha uma boneca e um boneco na frente", o instrumento
chamava a atenção através das imagens na capa. Além disso ela mostrava
as letras da forma tradicional a entrevistada diz "eu não achava ruim. E
minha mãe fazia: escrevia o nome das minhas bonecas que eram alunas...
dos meus primos num papel... e quando eu queria escrever alguma palavra,
ela dizia: é igual o nome de tal boneca, igual o nome de tal primo. E
ler para mim, era maravilhoso". A ligação com a realidade da criança
permitiu que o processo de aprendizagem da leitura se tornasse
prazeroso. Ela fala ainda que já tinha noção de que haviam sílabas mais
complexas como "PRA, TRA, tipo Branca de Neve, eu queria ler o BRAN",
mas como se sentia segura em relação as demais sílabas desejava agora
conhecê-las.
A primeira entrevistada lembrou que ao chegar em casa a mãe lia a
coleção de livros "Os clássicos" todos os dias e para ela "era fabuloso:
ficar todo dia escutando ela ler aquelas histórias. Eu amava tanto que
até hoje eu me lembro bem que quando aprendi a ler, a primeira leitura
que fiz foi daqueles contos, né? Eu adorava, amava... passava a tarde
lendo aquilo". A leitura dos contos envolveu o imaginário dela e
despertou seu interesse.
A partir de 1980 pesquisadroes de áreas diversas tomaram como temática e
objeto de estudo a leitura e seu ensino para redefini-los. Emília
Ferreiro e Ana Teberosky (1984) defendem uma concepção de língua escrita
como um sistema de notação, alfabético. Na aprendizagem desse sistema
de notação notaram que todos passavam por fases da escrita denominadas
de pré-silábica, silábica e alfabética e que os alunos precisariam
compreender que a escrita no papel são os sons das partes orais das
palavras e que as letras devem ser consideradas além das sílabas e por
meio disso aprenderiam e não por meio da leitura de textos presentes em
cartilhas tradicionais.
A partir da década de 1980 surge o conceito de analfabetismo funcional
caracterizando-o como: "aquelas pessoas que, tendo se apropriado das
habilidades de "codificação" e "decodificação"
não conseguiam fazer uso da escrita em diferentes contextos sociais
"permitindo que fossem incluidos nessa terminologia não somente os que
não liam e escreviam, mas as que tinham pouca escolarização.
A partir de 1990 o conceito de alfabetização vinculou-se ao termo
letramento que "não substitui a palavra alfabetização, mas aparece
associada a ela". A definição de letramento no dicionário Houaiss (2001)
"como um conjunto de práticas que denotam a capacidade de uso de
diferentes tipos de material escrito".
Atualmente ainda há um alto índice de analfabetos, não considerados
como iletrados, pois por meio de uma pessoa alfabetizada se envolvem em
práticas de leitura, escrita e sobre os gêneros textuais que circulam na
sociedade. Como exemplo a autora do texto cita crianças pequenas que
normalmente ouve histórias lidas por adultos ao pegarem um livro buscam
repetir todo o texto fingindo que estão lendo.
As entrevistadas relatam que conhecimentos se desenvolviam nas
experiências extra-classe. Vimos o quanto é importante o papel da
família no processo de aprendizagem.
A autora do texto dia que"... o domínio do sistema alfabético de
escrita não garante que sejamos capazes de ler e produzir todos os
gêneros de texto".
Na primeira metade do século 20 mesmo em países desenvolvidos, segundo a
autora, que possuem baixos índices de analfabetismo o fenômeno de
letramento passou a ser discutido.
A instituição responsável por promover o letramento é a escola embora
pesquisas revelem que as práticas de letramento fora dela são
importantes. A autora complementa a isto que "os alunos saem da escola
com o domínio... de "codificação" e "decodificação", mas são incapazes de ler e escrever funcionalmente textos variados em diferentes situações".
Soares (1998) aponta que adultos capazes de ler e produzir textos
escolares são incapazes de lidar com os usos cotidianos da leitura e
escrita em contextos não-escolares.
As práticas de leitura e produção de textos desenvolvidas na escola
não se adequaria ao contexto em que indivíduos convivem com a escrita de
forma mais complexa. No ensino tradicional de alfabetização depois de
decorar os códigos por meio de etapas, se lê efetivamente e isso não
garante a formação de leitores/escritores. "É importante destacar que
apenas o convívio intenso com textos que circulam na sociedade não
garante que os alunos se apropriem da escrita alfabética, uma vez que
essa aprendizagem não é espontânea e requer que o aluno reflita sobre as
características do nosso sistema de escrita". A autora expõe que o
convívio com textos diariamente não permite por si só que o aluno venha
refletir sobre o sistema de escrita, suas características e o principal é
que o mesmo compreende os motivos da leitura e escrita na sua vida.
Soares (1998a)
alfabetizar
e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o
ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no
contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o
indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfebetizado e letrado (p. 47)
A autora afirma que "... para a formação de leitores e escritores
competentes, é importante a interação com diferentes gêneros textuais,
com base em contextos diversificados de comunicação." Para alfabetizar
letrando é necessário que a escola oportunize aos seus alunos atividades
de leitura e produção de textos, mas deixando o resultado esperado "é
imprescindível que os alunos desenvolvam autonomia para ler e escrever
seus próprios textos".
O exemplo citado, pela escritora, de uma professora experiente na
função, com 15 anos de ensino que buscava diariamente realizar
atividades de leitura, exposição oral da compreensção por parte dos
alunos, produção de toxto coletivo, registro do mesmo por meio de cópia e
por último relacionava-o com imagens por meio de desnhos para facilitar
a compreensão, contudo a entrevistada "percebeu que faltavam o
desenvolvimento de atividades que levassem os alunos a refletir sobre
osistema alfabético de escrita... eu nçao faço atividades no nível da
palavra, atividade de análise fonológica... Assim, eles não podem se
alfabetizar. Agora vou fazer diferente!" Isso é magnífico um
profissional refletir e repensar suas práticas pedagógicas de ensino
perceber seus pontos negativos reconhecer seus erros e buscar
solucioná-los. No meu ponto de vista esta é uma educadora que merece ser
reverenciada e servir de exemplo para várias outras que por estarem
anos na função contam apenas os dias para as férias, licensas-prêmios, a aposentadoria e
as greves, das quais sequer participam; para verem-se livres dos alunos
que deixaram de ser o motivo de seu trabalho para serem um peso que têm
de carregar até esses dias tão almejados.
A autora diz que:
"a
leitura e a produção de diferentes textos são tarefas imprescindíveis
para a formação de pessoas letradas. No entanto, é importante que, na
escola, os contextos de leitura e produção levem em consideração os usos
e funções do gênero em questão. É preciso ler e produzir textos
diferentes para atender a finalidades diferenciadas, a fim de que
superemos o ler e a escrever palmente nora apenas aprender a ler e a
escrever... É imprescindível que diariamente em turmas de alfabetização
em que os alunos estão se apropriando do sistema de escrita, a
professora realize atividades com palavras que envolvam, ... uma
reflexão sobre suas propriedades: quantidade de letras e sílabas, ordem e
posição das letras, etc. a comparação entre palavras quanto à
quantidade de letras e sílabas e à presença de letras e sílabas iguais; a
exploração de riplomas e aliteração (palavras que possuem o mesmo som
em distintas posições (inicial e final, por exemplo)
Ela enfatiza que as atividades de reflexão sobre as palavras podem sim
estar inseridas na leitura e produção de textos, pois vários gêneros
favorecem como poemas, parlendas, cantigas e outros, contudo lembra que o
trabalho com nomes estáveis (como os nomes dos alunos) é fundamental
principalmente no início da alfabetização.
Bom
é perceber que vários profissionais tem bfuscado desenvolver práticas
de alfabetizar letrando é imprescindível que discussões continuem sendo
feitas neste interim para permitir que os profissionais da educação
estejam sempre prontos a refletirem a esse respeito e desejam mudar caso
seja preciso para atingir o objetivo de formar não decodificadores de
códigos registrados em alguma parte, as pessoas autônomas capazes de
criar e recriar, refletir e vivenciar uma leitura e escrita consciente e
prazerosa que não lhe sujeitasse a mediação de outras pessoas para
atividades, nos dias atuais, essenciais como sacar dinheiro num caixa
eletrônico,não assinar qualquer tipo de papel sem saber sequer o que
contém embora consiga ler tudo o que está escrito.
À escola cabe "garantir a formação de cidadãos letrados... e
construir estratégias de ensino que permitam alcançar... a... meta...
alfabetizar letrando.
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